Primeiras competições, árbitra pioneira, estreia em Copas do Mundo, Marta, artilharias… Momentos marcantes são lembrados pelo ge neste Dia Internacional da Mulher
Por Camila Alves — Recife
Pode-se dizer que a regulamentação do futebol feminino sacramentou as primeiras décadas de conquistas das mulheres no esporte brasileiro. Foi ali, em 1983, que permitiu-se competições, criação de calendário, utilização de estádios e o ensino do futebol nas escolas. No Rio de Janeiro e São Paulo, os clubes Radar e Saad – que não estão mais em atividade – foram pioneiros no profissionalismo.

Há de se observar que o momento marcava seis décadas de luta dessas mulheres, porque as primeiras aparições do futebol feminino ocorreram nos anos 20 e 30.
Na década de 1940, houve partidas entre mulheres no Pacaembu, por exemplo. Mas também foi naquela época que o decreto-lei (3199, Art 54) proibiu a prática de esportes para mulheres no Brasil. O fato tem sido noticiado por décadas desde então, mas tem peso pelo impacto histórico negativo no desenvolvimento de modalidades como o futebol feminino. A lei só foi revogada em 1979.

1967: A primeira árbitra
O futebol feminino ainda era proibido no Brasil quando Léa Campos se tornou a primeira mulher a terminar um curso de arbitragem no país. Anotem este nome: Asaléa de Campos Micheli.
Em 1967, ela conseguiu uma brecha porque o Decreto-Lei 3199 proibia as mulheres de jogarem, mas não faziam menção sobre arbitragem. Léa fez o curso de árbitros em Minas Gerais, no Departamento de Futebol Amador da Federação Estadual. Só que não pôde participar da formatura do curso, por conta de represálias.


1991: Primeira Copa FIFA
Doze anos depois de derrubar a proibição, as mulheres disputaram a primeira Copa Fifa – em 1991. Aconteceu pouco depois de um torneio experimental da entidade (de 1988), quando as jogadoras viajaram com as sobras das roupas dos homens, inclusive.
Dessa vez, a diferença foi que a CBF assumiu o time de forma oficial. Ainda que de forma amadora. Pretinha – agora no Vasco – estava naquele grupo, comandado pelo técnico pernambucano Fernando Pires, e a zagueira Elane marcou o primeiro gol do país – na vitória sobre o Japão. Essas mulheres, inclusive, foram homenageadas pela CBF em dezembro do ano passado.

2009: A primeira Libertadores
Os clubes também ganharam espaço. Quase duas décadas depois da estreia na Copa, chegou a primeira edição da Libertadores Feminina. E o título ficou no Brasil. O Santos contava com Marta e Cristiane – que voavam na seleção naquele período – e conquistou o troféu. Cristiane, inclusive, foi artilheira da competição, com 15 gols.
Detalhe: a Copa do Brasil era o campeonato nacional do país naquela época. O Brasileiro só começou a ser disputado em 2013. Para se ter ideia, foi o ano em que lançou-se o PlayStation 4 e que o Atlético-MG venceu a Libertadores (no masculino) pela primeira vez.

2016: Artilharia dos Jogos Olímpicos
Cristiane caminhou ao lado de Marta no futebol. Tornou-se referência e uma personagem fundamental para as conquistas das mulheres na própria seleção brasileira, inclusive. Em 2016, no Rio de Janeiro, atacante virou a maior artilheira da história dos Jogos Olímpicos – também entre homens de mulheres. Superou Sophus Nielsen, da Dinamarca, que tem 14.
Marta tem motivo para sustentar o título de “Rainha”. Referência histórica no futebol, a meia-atacante conquistou o posto de maior vencedora do prêmio de melhor do mundo – ao lado de Lionel Messi. Levantou a marca seis vezes, sendo cinco delas de forma consecutiva: 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2018.

Mais uma marca dela: Marta. Ela marcou pela seleção brasileira no dia 18 de junho de 2019 e isolou-se na artilharia da história das Copas do Mundo – considerando mulheres e homens. São 17 gols da camisa 10. Sim, superando os números de Miroslav Klose, que tem 16 pela Alemanha.
Detalhe que, no ano passado, Marta teve números oficiais levantados pela CBF e foi oficializada pela entidade como maior artilheira da história da seleção brasileira – superando Pelé. São 119 gols da atacante em 178 partidas pelo Brasil.
As primeiras conquistas uniram-se às individuais e chegaram ao melhor momento no Brasil em 2019. Aqui, houve: o ganho de visibilidade e estruturação de calendário.
Era ano de Copa do Mundo, na França. A TV Globo anunciou a transmissão da seleção brasileira feminina em Mundiais pela primeira vez, e elas ganharam sustentação nacional depois disso. Foi mais uma virada de chave.
